Bem-vindos à Universidade Aberta

Outubro 2018  #117

 

Vamos iniciar mais um ano letivo e servem estas palavras para transmitir a todos as mais cordiais saudações de boas vindas, particularmente aos que agora chegam pela primeira vez a esta instituição pública universitária de ensino a distância que é a Universidade Aberta. Estamos a dar estas boas vindas em pleno aniversário dos 30 anos.

Ao comemorar esses 30 anos, não podemos deixar por isso de saudar todos os que aqui trabalham e estudam pois todos fazemos parte desta comunidade que ao longo destes anos tem percorrido este caminho passando de uns para outros o “depoimento” desta instituição universitária. Somos uma pequena parte de uma obra que nos excede. Somos colaboradores de um projeto comum que nos orgulha.

Construir este projeto académico exigiu-nos muito esforço e muitos desafios. Foi laborioso, solicitou as nossas melhores energias e criatividade; às vezes foi esgotante mas desafiador. Basta pensar neste ano – um ano de avaliação institucional. Mas deste ano, saímos com aprendizagens e convicções fortalecidas.

Primeira lição. Somos uma comunidade que se baseia no respeito e no diálogo. Por isso exigimos também o respeito para connosco. Há limites que não podem ser transgredidos.

Segunda lição. Somos uma comunidade universitária, um programa bem definido no quadro da educação superior pública. Estamos dedicados à formação de pessoas, à docência, à investigação, a contribuir com a prestação de serviço público ao país. O cumprimento dos nossos compromissos académicos foi a chave, o critério, o valor principal que nos orientou durante todos estes anos. Queremos servir o país, mas fazemo-lo não só como um projeto académico baseados nas melhores práticas universitárias mas também como um projeto com impacto social.

Cumprimos todas as etapas e ciclos que fazem parte do processo de crescimento, vivemos um ano de avaliação institucional, pudemos dizer que estamos a cumprir o projeto do reitor fundador e também do decisor político que lhe deu expressão no contexto do sistema público de ensino superior do estado português. Pudemos fazê-lo porque fomos reconhecidos por parte de uma Comissão de Avaliação Externa como uma universidade que “tem uma visão clara da sua missão”: uma universidade que goza do prestígio de o ser.

Durante 30 anos, na Universidade Aberta fomos construindo com muita seriedade um projeto educativo que ofereceu e oferece ao país profissionais bem preparados e comprometidos com a sociedade. É um trabalho em permanente dinamismo, sustentado numa missão que encara as pessoas como o seu centro, com a consciência que é através delas que se realizam as mudanças profundas, onde se cimentam as bases sólidas do desenvolvimento futuro.

Mas a UAb é mais que uma instituição académica: é a soma de todas as pessoas que fazem parte dela, e também de todos aqueles que se acercam à nossa universidade para se formar, conhecer o que fazemos ou aceder aos múltiplos serviços que oferecemos à sociedade.

Nesta linha, há quatro pontos que devemos abordar de maneira prioritária. Primeiro, e sendo a finalidade de uma universidade, a busca da verdade é o nosso dever e uma necessidade indeclinável seguir trabalhando em prol do fortalecimento académico a todos os níveis com a consciência de que ali se encontra o núcleo e o motor do nosso ser universitário. Segundo, devemos, simultaneamente, avançar na institucionalização e desmaterialização dos processos, conseguindo a consolidação de uma cultura de modelos de qualidade e de excelência; de programação e avaliação constante que nos facilitem o labor de ocupar o âmago da nossa missão: a formação integral dos nossos estudantes. Em terceiro lugar, é necessária a consolidação da nossa infraestrutura física e tecnológica. As novas instalações disponibilizarão novos espaços para a docência, a investigação e a convivência universitária, de modo a fazer frente ao crescimento da UAb e favorecer o processo integral de ensino-aprendizagem. E por último, o mais importante. Para que a nossa missão se consolide, para que a academia atinja níveis de excelência e os processos funcionem adequadamente contribuindo para o cumprimento da nossa missão, é vital o reforço do empenhamento e do sentido de comunidade. A “comum unidade” dá-se, como sugere a mesma palavra, em torno de um ideal e nutre-se do mesmo. Ideal que no nosso caso se sintetiza no lema universitário “ad astra” e no nosso slogan “em qualquer lugar”. Duas ideias que devem ser ao mesmo tempo inspiração e motor da nossa forma de ser. No essencial, contribuir e ser participante deste projeto é sem dúvida um privilégio, que entusiasma e que dá sentido ao desafio de cada dia.

Estamos a iniciar um novo ano letivo, mais uma vez, em nome da Universidade e de toda a comunidade académica, docentes e não docentes, desejamos dar as boas vindas a todos e expressar a nossa satisfação em vos acolher nesta Universidade. Temos a convicção que se inicia um novo ciclo na vossa vida por estarem na universidade e fazerem a vossa formação profissional e científica. Este período de estadia na universidade implica a existência de uma nova mentalidade e um salto qualitativo no aproveitamento do tempo de formação pessoal, conquista de novos amigos (embora a distância possa parecer uma separação, vão ver que é possível agregar!) mas também de aprendizagem e vivência de novos saberes que são fundamentais na aquisição de competências técnicas, pedagógicas e científicas. Estar na universidade implica também participação, convivência e capacidade crítica. Trata-se de edificar um quotidiano com sentido empreendedor e responsável, para a construção em conjunto de uma academia melhor em termos de formação profissional e científica. A UAb é já uma universidade de referência Nacional e Internacional nos cursos de 1.º, 2.º e 3.º Ciclos, bem como no âmbito da investigação científica, formação pedagógica, sobretudo em relação às áreas do seu modus operandi, ou seja, a nossa maneira de agir, a nossa maneira de operar e de executar, a nossa maneira de ensinar e formar em ensino a distância, uma atividade seguindo sempre os melhores procedimentos. Nesse sentido, cada estudante deve aproveitar bem este tempo de formação universitária para que esteja bem preparado para enfrentar a sua futura realidade profissional e assumir a construção de uma cidadania responsável e participativa. Tudo faremos para que em conjunto convosco possamos dar resposta às vossas motivações, projetos e iniciativas. Acreditamos que esta tarefa exige uma grande dedicação de todos (funcionários, docentes e estudantes) e que em conjunto poderemos melhorar ainda mais a nossa identidade, a missão da universidade e a sua internacionalização.

uma universidade que ensina é também uma universidade que pensa e que discute com os outros aquilo que ensina e o modo como o faz; sem isso, o ensino (e mormente o ensino superior a distância) é um labor fechado sobre si mesmo, enclausurado no seu próprio labirinto e despejado do sentido de projeção universal que a universidade, por natureza, deve cultivar” [Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta entre 2006-2011].

Ser estudante da Universidade Aberta neste século XXI constitui, no meu modo de ver, um desafio e uma esperança. Um desafio, porque vai integrar uma instituição educativa que luta pela sua excelência no meio de condições bem adversas; uma excelência que se constrói, justamente na interação dialógica entre docentes e estudantes com o objetivo maior de produzir conhecimento. Mas é um repto, assim mesmo, para aqueles que connosco estudam já que também têm a oportunidade de debater a sua identidade entre um modelo social que cada vez mais concebe os sujeitos como clientes e consumidores, e questionar esse modo de autocompreensão. Uma esperança expressa no compromisso de se assumirem como pessoas que se incorporam numa Universidade pública já com história, num momento social em que a história, precisamente ela, começa a desaparecer dos discursos para dar lugar ao imediatismo do descartável, do “novo” como valor “encapotado” de cultural, em lugar do seu real valor – o mercado.

Neste sentido, os desafios para a formação das pessoas hoje são mais amplos e complexos e concentram-se cada vez mais em como desenvolver os recursos humanos em benefício de todos, quais são as competências que têm maior incidência no crescimento económico e na nova cultura do trabalho, como superar a tradicional divisão entre formação e mercado de trabalho, quais são as competências necessárias para nos realizarmos numa sociedade do conhecimento, como fortalecer a participação cívica, a cidadania e a democracia, como assegurar a aprendizagem das pessoas ao longo da sua vida.

As tendências económicas e societais em geral, bem como os desafios potenciais da sociedade do conhecimento, da globalização, da evolução das estruturas familiares, dos problemas demográficos e ambientais, do impacto da tecnologia digital, etc., colocam várias questões à sociedade, ao mesmo tempo que podem ser desafiadores para os cidadãos. Precisamos também nesta matéria de um (novo) contrato com a sociedade. Um contrato que repense as IES (em particular as universidades) na sua conceção e os seus modelos, no qual o conhecimento possa estar, efetivamente, ao serviço do aumento da qualidade de vida de todas as populações e possa assegurar, para além da inclusão social, o desenvolvimento social e económico. A Ciência e a Educação afiguram-se-nos como um processo contínuo, ao longo de toda a vida, constituindo um valor essencial do desenvolvimento humano, económico e social de todos os povos.

A universidade do século XXI tem que definir estratégias e perceber quais as tendências sociais e educacionais deste século: economia globalizada, mudanças no mercado face a novas profissões, redefinição do perfil profissional, novo perfil do estudante que ingressa/procura a Universidade (geração digital), etc. As universidades (as IES) não podem ignorar por mais tempo essas mudanças, pois dentro de um prazo mais curto do que se possa pensar os grandes campi universitários serão relíquias.

Permitam-me que vos convoque a todos a trabalhar, aos estudantes a estudar, a pesquisar e a inovar. Mas sobretudo a não guardar silêncio. A voz da Universidade não pode ser uma voz submissa, mas a voz da razão, porque a razão sempre está no conhecimento e no saber e esse é o produto que desenvolvemos nesta instituição pública de ensino a distância que é a Universidade Aberta.

Por tudo isso temos o privilégio de dizer à sociedade, obrigado. Confiem em nós, podem confiar em nós, tudo faremos para não vos desiludir, sabendo que ainda podemos melhorar muitas coisas, nomeadamente, temos que orientar a nossa oferta formativa às necessidades da sociedade e muito especialmente, tanto quanto possível, no espaço da língua portuguesa.

Eu diria e para terminar que a sociedade do conhecimento e da aprendizagem surge, atualmente, como o cenário eficaz para o progresso social e individual… para uma sociedade com cidadãos empenhados e não meros consumidores obedientes. Esta é a Universidade Aberta que hoje dá as boas-vindas aos seus novos e novas estudantes. Desejamos a todos um bom ano letivo e que possam connosco ao longo das vossas vidas concretizar os vossos desejos e planos de aprofundar o saber e os conhecimentos para uma vida ativa e profissional mais plena.

Somos uma universidade que acredita na valorização das pessoas e da sociedade.

Bem-vindos.

 

Domingos Caeiro

Vice-reitor para a Gestão Académica e Interação com a Sociedade