Passar o Rubicão, ganhar a esperança

Imagino o que terá passado pela cabeça do Prof. Doutor Armando Rocha-Trindade quando decidiu avançar para a criação de uma universidade de ensino a distância em Portugal. Era um empreendimento arriscado, porque não dependia só da sua vontade, embora também dependesse da sua vontade.

Os adversários da ideia eram conhecidos e influentes.

Dirá a História que Rocha-Trindade se preparou, foi persuasivo e reuniu os apoios necessários.

A sua vontade foi decisiva, apesar dos opositores.

Dirá ainda a História que a criação da Universidade Aberta foi um passo em frente no ensino superior em Portugal protagonizado por dois homens de génio, que aproveitaram o momento: o ministro Roberto Carneiro e o Prof. Rocha-Trindade.

O Prof. Roberto Carneiro é vivo e continua a apostar na Universidade Aberta como um projeto avançado de democratização do ensino superior em Portugal. A Universidade Aberta atribuiu-lhe muito justamente o doutoramento honoris causa em 2013 pelos relevantes serviços prestados ao país e à causa do ensino a distância.

Do Prof. Rocha Trindade guardo uma história primordial. É primordial, porque foi o momento em que o conheci. Estávamos em 1998, o Prof. Rocha-Trindade ainda era Reitor, e deu-me posse como assistente. Recordo que me puxou para si e me disse ao ouvido: “Agora, doutore-se!”. Compreendi intimamente a mensagem do homem que sabe que uma instituição, assim como um país, se faz com pessoas bem preparadas.

Olhando retrospetivamente, é justo reconhecer que a Universidade Aberta ao longo dos seus quase 32 anos de existência esteve à altura das suas responsabilidades, formando milhares de pessoas no regime de ensino a distância em todo o mundo, quando muitos duvidavam ou julgavam impossível.

A Universidade Aberta é um empreendimento notável. Estou convencido de que é o melhor exemplo de empreendedorismo social em Portugal nos últimos 50 anos. Orgulho-me da instituição a que pertenço, pelo seu passado, que nos honra, e pelo seu futuro, que nos cabe construir.

Partilho este sentimento com muitos membros da comunidade académica. Recebo um email de uma dirigente que me diz: “Professor, em tempo record, envio em anexo a primeira versão do documento para revisão”. Esta é a atitude correta perante as necessidades diárias.

Como ainda hoje me dizia um estudante, vamos ter de sair mais fortes da pandemia que nos assola. Não há melhor do que um estudante para falar da Universidade Aberta, porque é por causa dos estudantes que a instituição existe. Neste momento particular, em que muitos estudantes vivem uma grande incerteza em relação ao seu futuro profissional, por causa da crise, a Universidade Aberta precisa de comportamentos corajosos e solidários para com eles.

É tempo de trabalhar bem, porque os desafios são muito exigentes.

Lembro o trabalho notável de muitos professores e trabalhadores não docentes com os estudantes, assim como a sua disponibilidade para colaborar de forma competente com a instituição em tudo o que lhes é pedido.

Lembro ainda, e não é menos importante, o trabalho excecional de pessoas externas que servem a Universidade Aberta fazendo dela sua casa e sua causa.

Lembrar Rocha-Trindade a passar o seu Rubicão é saber que não há possibilidade de voltar atrás e que a Universidade Aberta avançou sempre que tomou a iniciativa e respondeu às necessidades do país e das pessoas.

Devemos responder à situação de emergência do país na área do ensino superior provocada pela atual pandemia com a normalidade possível e a disponibilidade para trabalharmos em conjunto e com as outras instituições. Já não está em causa justificar a pertinência do ensino a distância para a formação das pessoas. É necessário sermos ainda melhores professores e prestar um serviço efetivo à comunidade.

A nossa experiência singular e acumulada no campo do ensino a distância e em rede em Portugal responsabiliza-nos e deve ser razão de esperança para muitos. É minha convicção de que podemos e vamos avançar, para o bem de todos.

 

João Relvão Caetano
Pró-reitor da Universidade Aberta

Abril de 2020 #136