Uma Universidade para a próxima década

Desde a criação da nossa universidade, completou 31 anos em 2 de dezembro do presente ano, foram várias as mudanças nas políticas de educação superior. A implementação do Espaço Europeu de Educação Superior (EEES) no ano 1999 supôs o nascimento de uma nova forma de entender a universidade.

A adaptação da nossa universidade a estas mudanças políticas, sociais e tecnológicas revela a força intrínseca da UAb e a sua capacidade de assimilar, estudar e percecionar as transformações que se produzem no seu meio e continuar com a sua missão de criar formação, conhecimento e promover investigação ao serviço da sociedade.

Chegou o momento de dar um novo rumo à nossa universidade, a Agenda 2030 e a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Estratégia Europa 2020, a agenda da União Europeia para a modernização das universidades, a Agenda renovada para a Educação Superior, o Programa Enquadramento 2020, Horizonte Europa e Programa Erasmus+, o Decreto-lei sobre o Regime Jurídico para o Ensino a Distância e mais recentemente o Contrato de Legislatura mostram que a universidade deve desempenhar um papel importante na hora de enfrentar os desafios sociais e democráticos e garantir uma maior eficácia e qualidade no âmbito da educação, da investigação e na gestão da nossa universidade no seu relacionamento com a sociedade.

A partir da premissa de como o desenvolvimento da tecnologia digital está a influenciar uma ciência do conhecimento e inovação mais aberta, colaborativa e global, a partir desta perspetiva, necessitamos de um planeamento estratégico que se adapte aos novos palcos e desafios educativos para podermos avançar juntos no caminho do nosso futuro. Pugnaremos por uma universidade moderna, numa melhoria contínua da sua qualidade e que estimule o dinamismo da comunidade universitária, adaptada e moldada à tecnologia digital, delineando uma universidade mais aberta, colaborativa e global, dentro do enquadramento das políticas de responsabilidade social.

Queremos deixar claro: esse plano estratégico terá que ser o resultado de um trabalho construtivo num projeto comum que seja a expressão de um compromisso com a nossa comunidade universitária. Inquestionavelmente deverá ser construído dentro de um enquadramento de diálogo aberto, inovador e flexível que proporcione as soluções mais adequadas às necessidades presentes e futuras da nossa universidade, bem como ao desenvolvimento da nossa atividade universitária como elemento fundamental da sociedade.

 

Sem nos esquecermos do nosso passado…

No Decreto de criação da Universidade Aberta, em 1988 já se estabelecia a necessidade de desenvolver um dos princípios básicos da educação, o da igualdade de oportunidades. Entre os seus objetivos obrigava-se a criar meios e condições que facilitassem o acesso à educação superior a todos aqueles que, por razões de residência, obrigações laborais ou quaisquer outras, não pudessem frequentar as aulas na universidade. O meio mais idóneo para cumprir este objetivo foi o do ensino a distância, o único capaz de assegurar a flexibilidade requerida, sem a diminuição do nível qualitativo do ensino.

Nesses tempos, a modalidade do ensino a distância apresentava, perante o tradicional, características muito distintas e específicas, não só na organização técnica e metodológica, mas também na gestão administrativa, sendo a inovação metodológica uma das suas características principais.

A capacidade de trabalho, entusiasmo e inovação do pessoal docente e investigador, o pessoal de administração e serviços, os tutores (naquele tempo nos centros de apoio localizados nas instituições de ensino superior em cada capital de distrito) e os estudantes que pertenceram e pertencem à UAb, mantendo os princípios e valores de igualdade, inclusão social e responsabilidade social que regem a nossa instituição, fazem com que mantenhamos a “ilusão” para seguirmos trabalhando juntos na construção do futuro da nossa universidade, a instituição pública universitária que maior presença tem junto da população adulta e em contextos de trabalho e com grande presença em África e na América de expressão portuguesa. Isto inclui, entre outras configurações, o compromisso de implementação dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a dimensão da inclusão, a responsabilidade ética, o acesso aberto, a educação científica e o comprometimento da cidadania.

 

A toda a comunidade…

Uma universidade, e a UAb não foge à regra, não teria razão de ser sem os estudantes, aos quais se deve garantir a igualdade de oportunidades no acesso à educação superior e para quem o permanente compromisso é o de prestar um melhor serviço e uma formação académica de qualidade. A nossa universidade facilita o acesso ao ensino universitário e a possibilidade de prosseguir estudos superiores a todas as pessoas que elejam o sistema educativo da UAb pela sua metodologia, bem como por razões laborais, económicas, de residência ou qualquer outra, assegurando o acesso igualitário a todos os homens e mulheres a uma formação técnica, profissional e superior de qualidade, no campo do ensino universitário.

Não é possível dotar de eficácia e fazer com que seja competente nenhum sistema sem que todos os seus atores tenham a oportunidade de ser ouvidos e se sintam implicados na busca de fórmulas integradoras em torno de um projeto comum. O valor e o ativo mais importante de toda a instituição são os membros que a compõem – falamos das pessoas. Uma universidade, para poder cumprir adequadamente as suas funções e as suas missões, precisa de um modelo, tanto a nível de ensino como de técnico-administrativo, dinâmico, em constante processo de evolução e melhoria, e precisa, assim mesmo, de dotar de um maior reconhecimento e estabilidade os seus colaboradores. Portanto, é indispensável impulsionar a contínua renovação e atualização do seu pessoal para que a UAb possa ser mais eficaz e competente no serviço público que presta e lhe está adstrito a nível nacional e desejavelmente internacional, e também para que seja mais competitiva no âmbito regional, através dos nossos Centros Locais de Aprendizagem.

As constantes mudanças legislativas experimentadas no sistema universitário têm imposto para os membros do pessoal docente e do pessoal de administração e serviços um motivo de tensão e, em muitos casos, de saturação. Os primeiros ao assegurarem a idoneidade de um sistema tão mutável e tão enormemente burocratizado que, com recursos às vezes muito escassos, impõe um ritmo e uma qualidade de trabalho cada vez mais exigentes. Por sua vez, o pessoal da administração e serviços pugna para estar à altura dos requisitos organizativos impostos por esse mesmo sistema.

No entanto, é possível racionalizar esta situação, e provavelmente simplificá-la, dentro das margens que oferece a legislação. Por isso, é primordial conseguir mais recursos, seja pelo Contrato de Desenvolvimento Institucional contemplado RJED, seja por financiamentos externos, seja pela obtenção de receitas próprias provenientes dos serviços prestados. Isto, sem dúvida, redundará numa gestão mais eficaz das funções de trabalho para o regime de desempenho do pessoal docente e da administração e serviços com o conseguinte benefício para os nossos estudantes. Gera-se “ilusão” quando se crê num sistema e se confia nele e se demonstra as suas virtudes e a sua eficácia.

 

A UAb que queremos conseguir:

  1. Uma universidade competente e competitiva para um mundo digital.

Uma universidade capaz de se adaptar às mudanças e responder às necessidades atuais, incorporando os recursos e desenvolvimentos tecnológicos para prestar um melhor serviço e aumentar a sua competitividade. Uma universidade próxima, com uma gestão eficiente, transparente e participativa, que potencie a sua relevância e reconhecimento externo. Uma organização baseada na colaboração e no trabalho em rede.

 

  1. Uma universidade centrada nas pessoas.

Uma universidade que ofereça oportunidades de desenvolvimento aos seus estudantes e que apoie o desenvolvimento profissional e pessoal dos seus trabalhadores. A qualificação especializada, a motivação, a coesão e a melhoria das condições de trabalho que possa reverter na prestação de um melhor serviço e no fortalecimento da nossa instituição.

 

  1. A universidade de referência para uma formação flexível e compatível com a necessidade dos cidadãos e com a sociedade digital.

A meta de alcançar um patamar onde a UAb não só mantenha o legado conquistado mas sobretudo que reforce a sua liderança, constituindo-se como uma universidade de referência para a formação flexível e compatível com outras atividades e áreas da sociedade digital, e para a atualização de conhecimentos num quadro de aprendizagem ao longo de toda a vida. Uma universidade aberta ao mundo, preparada para atingir maiores níveis de internacionalização, capaz de atrair estudantes e talentos (docentes e investigadores) e de prestar serviço para além das nossas fronteiras.

 

  1. Uma universidade que gera conhecimento e o transfere para o meio social e económico.

Uma universidade que potencie e dê visibilidade à capacidade investigativa do seu corpo docente; geradora de conhecimentos que contribuam para reforçar a sua função formadora; competitiva na obtenção de recursos para financiar a investigação e que sirva ao mesmo tempo para formar investigadores de excelência e para atrair talento científico; e capaz de transferir o conhecimento que advenha dos seus projetos científicos para a sociedade e contribua para desenvolvimento económico e social da população. A conjugação de todos estes fatores contribuirá decisivamente para o aumento da competitividade dos projetos desenvolvidos e para o posicionamento da Universidade Aberta como a protagonista dos avanços do conhecimento, sobretudo na área da Educação a Distância, Digital, Aberta e em Rede.

 

  1. Uma universidade enraizada no tecido social e que contribui para o seu desenvolvimento.

Uma universidade que graças à sua rede de Centros Locais de Aprendizagem e ligação à sociedade possa chegar a todo o território nacional e esteja enraizada nos mais diversos territórios de modo a poder contribuir para o seu desenvolvimento socioeconómico e cultural. A nossa rede de Centros Locais de Aprendizagem faz-nos ser visíveis e presentes, identifica-nos e dá-nos um valor diferencial perante outras experiências de ensino não presencial, o que constitui um elemento de identidade e, ainda mais importante, um valor estratégico que queremos potenciar e continuar a consolidar.

 

  1. Uma universidade transparente e comprometida socialmente.

Uma universidade pública com uma clara missão social e comprometida com o desenvolvimento das pessoas, que contribua para a equidade e favoreça o desenvolvimento socioeconómico e cultural. Deve ser este o ponto de partida que, sendo aceitável, esteja longe de nos satisfazer, por isso, será/é da nossa responsabilidade o dever de avançarmos e contribuir ativamente para os grandes objetivos do desenvolvimento sustentável, um desafio que deveremos potenciar como uma das nossas marcas de identidade.

Este é o desafio para um futuro que reclama inevitavelmente a modernização da universidade, o que passa por um claro salto qualitativo, uma mudança que requer um projeto de grande magnitude para o qual todos devemos cooperar, e que deve contar com a participação e a colaboração de toda a comunidade universitária: docentes, dirigentes/técnicos/administrativos, estudantes, tutores, etc. de todos as unidades orgânicas e serviços centrais e desconcentrados da UAb, bem como dos seus parceiros e demais partes interessadas. Tal grau de participação, por outra parte, requer e reclama virtudes que têm que ser fomentadas e desenvolvidas: diálogo, humildade, liderança, generosidade, proximidade, solidariedade e transparência. Entendo que o desenvolvimento destas qualidades, bem como a sua incorporação na quotidianidade indissociável do nosso viver universitário, permitir-nos-á impulsionar um projeto moderno e vanguardista para a instituição com todo o nosso maior empenho e labor.

 

Um bom ano de 2020!

 

Domingos Caeiro
Vice-reitor da Universidade Aberta