A minha experiência Erasmus

Faço o relato da minha experiência de mobilidade ao abrigo do programa Erasmus +, com a esperança de que muitos daqueles que possam ler este testemunho arrisquem mais, desafiem as vossas capacidades e enfrentem eventuais receios que possam ter em relação a um período de estágio ou de estudos no estrangeiro. É importante para o nosso desenvolvimento enquanto indivíduos termos a capacidade de nos desafiar, conhecer novas culturas, novas formas e métodos de trabalho.

Devo confessar que o processo de candidatura não é muito simples, tendo em conta a oferta que é sempre variável, o elevado número de candidatos e o tempo disponível para a candidatura e realização deste período de mobilidade, uma vez que este estágio deve ser efetuado até um ano após o término da licenciatura. Recorri a sites como o Erasmus Intern ou o Praxis Network, para encontrar a oferta mais adequada ao meu perfil. Posso dizer que comecei a minha procura em novembro de 2016 e só em março de 2017 consegui encontrar uma oferta que correspondesse à minha procura, acabando por ter a sorte de ser selecionada para a mesma. O processo de candidatura é equivalente à candidatura a uma vaga no mercado de trabalho: há uma candidatura a uma entidade ou Universidade, são enviados os documentos habituais (documentos de identificação, CV, comprovativos de habilitações académicas), há ainda uma entrevista (via Skype/Whatsapp), inúmeras trocas de e-mails e uma resposta final. Este processo teve três intervenientes, na fase inicial eu e a Universidade de Sássari, que promoveu este programa de mobilidade e na fase final o acompanhamento da minha Universidade, a Universidade Aberta. Depois de cumprir todas as formalidades relacionadas com o meu processo de mobilidade, parti para a Sardenha via Madrid no dia 4 de Abril de 2017.

A bela ilha da Sardenha é uma região autónoma da Itália com uma cultura muito própria e característica, paisagens naturais de cortar a respiração, um povo genuíno e acolhedor e uma língua, o sardo (língua natural românica). O italiano e o sardo são as línguas oficiais da Sardenha, mas também se falam outros dialectos variantes do sardo nas diferentes regiões da ilha como: o sassarês a noroeste, o galurês a nordeste, o logudorês no interior e o campidanês a sul. Existem ainda subdialectos destes dialectos que são mais característicos e evidenciam a sua origem.

Foi na cidade de Sássari, no norte, que realizei o meu estágio na Libreria Internazionale Koinè. O meu trabalho consistia na aprendizagem e execução da profissão de livreiro, no que diz respeito gestão da livraria compreendendo e auxiliando em todos os seus processos como: a reposição, as reservas, as devoluções, a classificação semanal e a procura de livros. Participei ainda na organização de laboratórios de leitura para crianças e encontros com autores, tudo isto sob a orientação da minha tutora. Na livraria constatei a importância dada à literatura em Itália que assume um papel relevante, constituindo um mercado sólido com inúmeras editoras onde a procura é significativa e tem a sua expressão. Os preços dos livros são mais baixos em comparação com o nosso país e é assim possível promover efetivamente a cultura da leitura. A literatura é tida como sinónimo de conhecimento, desenvolvimento, imaginação, criatividade, prazer, necessidade intelectual e de viagem, que ainda que seja mental nos consegue transportar para lugares nunca antes vistos. Existe também um grande mercado de vendas de livros em segunda mão, até porque, um livro é sempre um livro. Tive ainda a oportunidade de ter aulas de italiano no Centro Linguistico di Ateneo da Università degli Studi di Sassari, com outros estudantes e estagiários Erasmus da Bulgária, Turquia e Polónia.

Sássari é a segunda maior cidade da Sardenha seguindo-se à capital Cagliari. É uma cidade universitária bastante agradável com uma arquitetura fantástica e com uma população bastante afável e acessível.

Confesso que esta foi uma experiência muito positiva para mim. Tive a oportunidade de conhecer um país novo, diferentes formas de trabalho e organização, novos métodos e orientações. Tive ainda muito prazer nas pessoas que conheci, do carinho, ensinamentos e atenção que tive das minhas colegas de casa, duas italianas (sardas), que foram incansáveis comigo e me proporcionaram momentos inesquecíveis nesta experiência, “Chie hat un amigu, hat unu tesoro”.

A Sardenha tem uma beleza inconfundível, cheia de paisagens arrebatadoras, de boa gente, onde se come bem e se vive feliz.

Aconselho a todos aqueles que durante a sua vida académica tenham a oportunidade de fazer um período de mobilidade Erasmus, na modalidade de estudos ou estágio, que o façam, solicitem informações às vossas universidades, existem bolsas de mobilidade que podem ser facultadas e que variam de acordo com o país escolhido. Esta é uma experiência que decerto não vão esquecer.

     

     

Daniela Varela
Licenciada em Línguas Aplicadas pela Universidade Aberta

Newsletter UAb #106 – novembro 2017